sexta-feira, 15 de março de 2013


SERRA DA LUA





 O Sol e a Lua, duas presenças constantes no nosso planeta desde o princípio dos tempos, começaram logo cedo a serem admirados e venerados pela espécie humana. O homem foi evoluindo e desenvolvendo as suas diferentes culturas mas rara deve ter sido aquela que não divinizou estes dois astros. Para Oliveira Martins , o culto da lua é posterior ao culto do sol, pois a lua simbolizando as trevas, teria procedido o culto solar. Não está no âmbito deste trabalho fazer uma exposição dos diversos significados destes dois símbolos através da história, posso contudo concluir numa breve síntese que na maior parte das culturas a Lua estava ligada ao princípio feminino e o Sol, ao masculino, sendo que a Lua como princípio feminino começou a ser vista como dependente do Sol, devido ao facto deste lhe enviar a luz que ela reflecte. O Sol em certas culturas era venerado como uma divindade, era comparado a um deus pai que por um lado ilumina, aquece e alimenta o homem e por outro lado também o castiga provocando períodos de seca que levam à falta de alimento e consequentemente a períodos de fome. A Lua por seu lado sempre foi vista mais como uma deusa mãe que durante um terço do mês acompanha e ilumina o homem através das misteriosas hora nocturnas. A Lua terá sido o primeiro astro que o homem começou a observar, ao fazê-lo este compreendeu as suas fases e começou a relacioná-las com alguns aspectos da sua vida começando a guiar-se por elas. Elit na sua obra Traité dhistoire des religions , dá-nos esta definição do nosso satélite: Astro que cresce, diminui e desaparece, cuja vida está submetida à lei universal do devir, do nascimento e da mortea Lua conhece uma história patética, tal como a do homemmas a sua morte nunca é definitiva. Este eterno retorno às suas formas iniciais, esta periodicidade sem fim fazem com que a Lua seja por excelência o astro dos ritmos da vida ela controla todos os planos cósmicos regidos pelo devir cíclico: águas, chuva, vegetação, fertilidade. A Lua é a virgem, a mãe e a velha, todos os meses o homem acompanhava as suas etapas no céu e comparava-as ao seu próprio ciclo de vida passando pelo nascimento, crescimento, maturidade, decadência e morte. Contudo tal como o homem acreditava na continuação da vida para além da morte, também a Lua conseguia sempre renascer após o seu desaparecimento. A Lua passou assim a ser símbolo de renovação. Quanto ao culto da Lua no ocidente peninsular, será um culto de origem pré-histórica que terá ganho alento durante a época pré-romana e romana. Nos tempos proto-históricos a Serra de Sintra era conhecida pelo nome de Serra da Lua, não se sabe ao certo quando começou o culto a este astro nesta região mas segundo José Leite de Vasconcelos : Não seria de estranhar que os Fenícios ali tivessem um santuário com a invocação da Lua, como decerto os tinham no sacro promontório em honra de outros deuses: em tal caso o respectivo nome da divindade seria Astarte, deusa semítica da Lua e do oceano, a que os gregos fizeram corresponder Afrodite. De modo a confirmar esta afirmação de Leite de Vasconcelos não nos podemos esquecer que a Serra de Sintra estende-se até ao Cabo da Roca que era designado nesta altura por Cabo da Serra da Lua. Sendo os fenícios uns povo ligado ao mar, era pois muito provável que eles realmente tivessem cultuado a Lua nesta região pois esta sempre foi uma companhia para os navegantes iluminando-os no meio da escuridão marítima. O nome actual Sintra etimologicamente provém de Sin, nome que os babilónios davam à Lua, juntamente com o sufixo Tra que significa três e que pode ser uma alusão à tríplice manifestação da Lua, a virgem, a mãe e a velha como já referi neste capítulo ou então às sua tripla fase de deusa do céu, deusa da terra e deusa do submundo, tal como era conhecida na Grécia. Quanto a notícias sobre este culto, Ptolomeu, escritor grego da época romana (século I-II), terá sido o primeiro a usar a expressão Promontório da Serra da Lua. André de Resende, escritor humanista do século XVI, na sua obra De Antiqvitatibvs Lvsitaniae, refere-se igualmente ao Monte da Lua e diz-nos que: Junto ao sopé da serra, mesmo no cima do promontório, que é cortado abruptamente sobre o oceano existiu outrora um templo consagrado ao Sol e à Lua, do qual agora apenas existem ruínas nas areias do litoral e cipos, alguns com inscrições reveladoras da antiga superstição. E publica em seguida as inscrições de dois cipos da época romana dedicados ao Sol e à Lua. Contudo hoje em dia não nos restam quaisquer indícios visíveis da existência de um santuário na Serra de Sintra.

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